Cap. 230
Antes de voltar a ler, Augustus vasculha mais uma vez a cabana e avalia as opções existentes. Frustrado, aceita que não há o que ser feito no momento para ajudar Sarah ou dar um fim em Tex, então, resignado, decide para espiar um pouco mais dos diários que encontrou.
Dessa vez, resolve folhear o menor, que também possui uma capa de couro, mas bem mais puída, demonstrando não apenas ter mais idade como, também, ter sido muito mais manuseado.
“Entramos, agora, onde os nativos não ousam ir. A terra dos sem alma, terra da fome, terra dos Windigos”.
Assim começa o relato do diário de jornada do Coronel Théophile Antoine Champlain.
Cruzando o território rumo ao oeste, o coronel percebeu que, após passarem pelos grandes lagos próximos ao entreposto de Thunder Bay, os nativos Anishinaabe passaram a advertir sobre o perigo de continuar naquela rota.
Sugeriram que desviassem um pouco para o norte ou sul, evitando a terra do silêncio.
Perguntei ao nosso intérprete o motivo da preocupação e ele explicou que se tratava de evitar o território dos Windigos, uma suposta tribo da mitologia local, formada por homens antropófagos.
Tendo já sobrevivido a canibais na África e Brasil, Champlain não levou os avisos muito a sério.
“O povo local valoriza demais suas crenças, quando deveriam valorizar a pólvora e o aço. É por isso que somos conquistadores. Enfrentamos as crenças, os medos e a ignorância, levando luz, conhecimento, civilização e Deus a todos os cantos do mundo”.
Apesar de sua confiança inicial, é possível identificar que as dúvidas começaram a corroer as convicções do explorador, principalmente após um registro de outubro de 1748:
“Hoje, quase um mês após passarmos por Fort Rouge, um evento pitoresco ocorreu durante um inesperado encontro com nativos Cree. Constituíam um grupo de guerreiros muito mais numeroso que nossas forças.
Pelas pinturas em seus rostos, era possível perceber que seguiam para um combate. Contra quem, não saberia dizer, mas, se fossemos seu alvo, teríamos sido massacrados rápida e facilmente.
E por que não fomos? Vou explicar”.